domingo, 29 de outubro de 2017

Cronicidade

"Estou preso em uma fantasia, 
não posso acreditar nas coisas que eu vejo.
O caminho que escolhi, agora, levou-me a um muro.
E, a cada dia que passa, sinto mais e mais
como se algo estimado tivesse sido perdido.
Levanta-se, agora, diante de mim,
uma barreira de silêncio e escuridão entre
tudo que sou e tudo que eu queria ser.
É apenas uma farsa, elevando-se,
marcando os limites que meu espírito
poderia apagar." 

(The Wall, canção por Kansas, escrita por Livgren
 e Steve Walsh. Leftoverture/1976)


Não sabia se voltava a escrever. E isso arrastou-se por alguns bons dias. E se você perguntar-me o porquê, responderei prontamente pela escrita de hoje.

Há um tempo venho oscilando como um pêndulo frio de metal. Percebi que morri, não por completo, mas estou esvaindo-me em forma de poeira.

Carrego uma tristeza imensa e meu peito pesa. E isso piorou muito por eu ter voltado a morar com a família. São relações muito delicadas, construídas muito debilmente. Sinto-me extremamente oprimida e um grande fracasso.

Ao chegar nesse ponto, indaguei-me se alguma vez, nessa vida deprimente, eu deixei de ver-me dessa maneira. E a resposta assustou-me. Pois, analisando toda a minha trajetória, vi que eu estava desde sempre mergulhada na lama do eu desacreditado.

E eu também faço-lhes uma pergunta: como conseguem ler esses textos? Quem quer saber de tristura e melancolia em um mundo tão esfuziante como esse? Cheio de possibilidades e arcos coloridos.

Sou uma escritora desonrosa, apática e que traz um mundo pálido e cinza. Se todos os meus textos fossem impressos, não me surpreenderia que fossem estes queimados em grandes labaredas.

O impuro deve ser purificado pelo fogo, não é o que dizem?

Talvez seja hora de assumir que estou doente mentalmente.

A minha dor na coluna voltou. E, como todo padecimento permanente, esse é um daqueles momentos de crise que pode durar dias. E, mesmo que eu tente, nunca saberei detalhar o medo que sinto quando ela reinstalar-se em mim. Não é somente a dor física, se assim o fosse, viveria como todos os que têm uma discopatia degenerativa - agarrando-me a grandes esperanças. Junto com esse calvário, eu enfrento acusações, caras de desgosto e as piores profecias... Ah, esses oráculos... Penso eu que nasci amaldiçoada.

Há três dias eu só quero dormir e ficar no escuro, quieta e imóvel. Estou quase num estado de estupor. Não tenho vontade de sair, nem de conversar com ninguém. Olho algumas pessoas e já as considero minhas inimigas mortais. Deixei muitos conhecidos de lado. Outro dia mesmo tratei um friamente, sem muita conversa e o encarava com certa antipatia. Disfarcei-me com cordialidade. As minhas veneradas imagens foram quebradas pelas suas verdadeiras faces monstruosas, suas sujeiras, ambições e crimes.

Gostaria de não acordar mais. E o mais estranho disso tudo é que eu caí neste novo buraco em menos de uma semana. Eu estava um pouco alegre anteriormente, pois tinha posto na minha mente que tentaria achar uma solução para todos os meus problemas e começaria uma nova caminhada.

E esse castelo de areia desmoronou todo nas minhas mãos.

Andei sempre pelas sobras. E, a cada estação, sou assassinada por asfixia.

É... Hoje eu pensei em morrer. E vislumbrei os aborrecidos que causaria por conta dos preparativos para o funeral. Bizarro também foi pensar no falatório sobre a minha alma perdida...

Sim... Eu sou pessimista, e isso potencializa-se com a dor que sinto na lombar. Eu só estou bem cansada.

Será que algum vivente nesse mundo pode compreender essa minha angústia?

A única coisa que restou-me foi beber um café e olhar para o céu azul que nunca irei desfrutar.

Deus tenha piedade do meu espírito, pois, além de uma grande pecadora, com toda certeza, eu carrego uma grande calamidade dentro de mim.



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