quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Unilateralidade nas conversas - uma reflexão sobre os seres humanos in natura

Outro dia, por aqui mesmo, falei do meu gosto por escutar histórias de outras pessoas. Um lado egoísta que revelei sem muito pudor, afinal, isso tira-me do tédio absoluto. Porém, contrariando o meu lado demoníaco, tornei o relato disso extremamente ameno, limitando-me a falar de uma parcela pequena, aquela dos relatos interessantes e instigantes.

Sim, a maioria dessas narrações é um suplício sem precedentes, vulgar, murcha, comum, advinda de gente ainda mais comum, com seus casos amorosos e problemas que não venderiam uma linha sequer em um classificado de anúncios baratos. Enquanto tagarelam, presto atenção nos movimentos de suas bocas e línguas. Os homens, admito, são os meus objetos favoritos nesse parte.

E eu já escutei de tudo nessa vida - Ah, meu bom Deus, quanta paciência tenho...

Pois bem, a política das trocas não funciona nessa situação. E eu explico - essa gente não tem a mesma disposição para ouvir. Falta-lhe um certo senso, mesmo que possa ser fingido, de fascínio pelo semelhante (a não ser que esse seja de interesse sexual, romântico ou econômico.).

Por ser teimosa, aplico-me a autoflagelação de contar alguns fatos da minha vida para alguns desse círculo. E, como esperado, recebo umas poucas linhas com frases pré-fabricadas como resposta. Muitas vezes essas até demoram, ou, sendo clássica, o silêncio ensurdecedor da indiferença deles ecoa pelo ar.

E aconteceu mais uma vez por esses dias. Eu descobri a verdadeira história por trás das ações de um ex caso de alguns anos atrás, a paixão avassaladora da minha vida. E num ímpeto de partilhar a história bizarra, mergulhada em um total frenesi, contei tudo a uma conhecida.

E, bem, veio-me, depois de ser extremamente cozinhada, duas frases resumidas como resposta em um aplicativo de celular desses bastante comuns agora. E olha que eu praticamente narrei um livro em áudio para ela...

O mais interessante nisso tudo é que esta mesma pessoa é uma das muitas que encaixa-se fielmente nas linhas iniciais desse texto. Em outro momento, não muito distante desse, contou-me ela sobre sua vida atual, problemas e dúvidas. Eu dei um suporte específico em uma situação grave até. Obviamente, os supostos amores, assunto preferido da unanimidade, foi o carro-chefe nesse confessionário. Cabe-me aqui dizer que sua limitação é notada às vistas. Porém acreditava que, culpando de antemão um desvario meu, este ser, ao menos, não tornaria-se monossilábico e enlatado - Que grande, grande engano!

Mais adiante vi, por meio de uma rede social (o oráculo das podridões), que a mesma estava ocupada estudando e... Escutando música... Certo, ora! Um motivo justo. Não, calma aí um bocadinho... Quando suas lágrimas vieram à tona e ela precisava urgentemente desabafar, não lembro-me de ser indagada se eu estava ocupada... O que recordo-me é de ter dito - Vem agora para cá!

Por mais frívolas e restritas que determinadas pessoas possam aparentar ser (e de fato é assim), elas, em seus instintos primitivos, tem a esperteza intrínseca em sua essência. O ser humano é, naturalmente, egoísta. Um fato. Mas alguns, lapidados e muito maquiavélicos, conseguem mascarar essa predisposição em benefício próprio, teatralizando e suportando muitas situações que odeiam. Uma hora, ou outra, isso servirá. Já os primeiros... Acabam afundados em sua lama, procurando outros para contar suas proezas de botequim.

Chafurdar na areia com água é a vida de muita gente. E eu gosto muito de observar esse cenário - há algo de muito misterioso na degradação humana.

Contudo deixo aqui meu agradecimento a esses seres tão convidativos. Se não fosse por suas vidas tolas e seus atos odiosamente grotescos, metade dos meus escritos não existiria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!