Lá eu estava, em mais um devaneio. A Catedral erguia-se diante de mim e seus vitrais eram atravessados por luzes de um azul da cor da morada dos anjos. As pedras eram frias como o coração dos pólos, mas alimentavam o ambiente com o frescor da brisa virginal da madrugada. Estava sozinha e as gotas caíam na fonte, uma por uma, como uma sinfonia celestial. E eu rezava... Rezava para que a sombra que pousara em mim pudesse ir embora. Não havia mais canto e nem alegria. Estava presa em um mundo atingido pelas trevas.
Posso inventar muitos mundos, atravessá-los e até mesmo sentir as sensações que lá fazem-se presentes. Porém a dura realidade puxa-me dia a dia, insistindo, colocando álcool em minha ferida aberta.
Sinto-me culpada, culpada até mesmo por reclamar. Estão todos dementes? Ou estou sendo punida por algum crime do passado? É muito fácil ser louca, basta apenas estar na presença dos ditos sãos.
Onde está o sabor da maçã e do queijo que desfazem-se na boca? Ou esse amargor persistirá? Minha testa está casada de franzir.
Todos os dias escuto os relatos de felicidade, como histórias maravilhosas para colocar as crianças para dormir e sonhar com nuvens de algodão.
Alguém que caminha na praia, sonha, dorme por entre plumas... E eu a ouvir... No meu humilde cubículo... Trabalhando e tendo os sonhos esfacelados. E tendo ainda que aguentar insensatos e incompreensivos.
E aos pobres mortais, como eu, as migalhas são a sobrevivência.
Odeio as manhãs, pois elas lembram-me da labuta diária por algo simplesmente sem coerência. Agora, aos que vivem cercados pelo conforto e esperança, o alvorecer significa o começo de um dia perfeito.
E resta-me a madrugada com seu véu negro e seus gritos de lamentações.
Se eu pudesse, estaria numa casa de repouso, longe de tudo, perto dos insanos que têm muito mais em comum comigo. E sou uma estranha no ninho, esse mundo não me pertence. Eu fui colocada aqui porque a vida é uma atrevida e gosta de escrever em aramaico.
Na verdade, eu não sou de lugar algum. Muito para esse pequeno mundo em que estou e pequena para o outro.
Então... Gaudete, nesse momento, não passa de uma bela música do século XVI para mim.
Alegrar-se, em qualquer língua, é tarefa hercúlea e que está a brilhar longínqua como uma estrela.
Onde está o sabor da maçã e do queijo que desfazem-se na boca? Ou esse amargor persistirá? Minha testa está casada de franzir.
Todos os dias escuto os relatos de felicidade, como histórias maravilhosas para colocar as crianças para dormir e sonhar com nuvens de algodão.
Alguém que caminha na praia, sonha, dorme por entre plumas... E eu a ouvir... No meu humilde cubículo... Trabalhando e tendo os sonhos esfacelados. E tendo ainda que aguentar insensatos e incompreensivos.
E aos pobres mortais, como eu, as migalhas são a sobrevivência.
Odeio as manhãs, pois elas lembram-me da labuta diária por algo simplesmente sem coerência. Agora, aos que vivem cercados pelo conforto e esperança, o alvorecer significa o começo de um dia perfeito.
E resta-me a madrugada com seu véu negro e seus gritos de lamentações.
Se eu pudesse, estaria numa casa de repouso, longe de tudo, perto dos insanos que têm muito mais em comum comigo. E sou uma estranha no ninho, esse mundo não me pertence. Eu fui colocada aqui porque a vida é uma atrevida e gosta de escrever em aramaico.
Na verdade, eu não sou de lugar algum. Muito para esse pequeno mundo em que estou e pequena para o outro.
Então... Gaudete, nesse momento, não passa de uma bela música do século XVI para mim.
Alegrar-se, em qualquer língua, é tarefa hercúlea e que está a brilhar longínqua como uma estrela.