terça-feira, 19 de março de 2013

A intríseca relação entre a busca do coração de ouro e a esperança

"Eu quero viver, eu quero doar
Eu tenho cavado em busca de um coração de ouro
São estas expressões que eu não abro mão
Que me mantém procurando por um coração de ouro
E estou envelhecendo
Elas me mantém procurando por um coração de ouro
Estou envelhecendo" (Neil Young, 1972, álbum Harvest


Uma gama de buscas para dar sentindo à vida, com objetivos claros ou não... E assim somos nós. Porém essas procuras intensas só são possíveis com a ajuda de uma das linhas mais resistentes que se tem conhecimento: a esperança.

Ao longo dos milênios muitos relatos sobre esse sentimento único foram deixados. O mais belo está na mitologia grega, imerso na criação do mundo, juntamente com a história de Prometeu, o coração de ouro dos humanos, o titã punido por ajudar a humanidade, o símbolo da resistência e da luta contra opressão. E assim como ele é o símbolo do sofrimento imerecido, a esperança é a representação da dádiva vinda de Zeus para abençoar o mundo. 

Segundo a Mitologia de Thomas Bulfinch, uma vez Pandora perdeu quase todas os presentes entregues a ela por Zeus, menos a esperança. "[...] embora haja tantos males, a esperança nunca nos abandona; e enquanto a tivermos, nenhuma soma de outras enfermidades podem nos fazer inteiramente desgraçados."*

Como bem se pode perceber: para esperança não existe tempo, existe perda.

Nossa busca maior, talvez, seja pelo coração de ouro de Prometeu e o relatado por Neil Young, ou seja, pelas pessoas que fazem o bem para nós e pelas pessoas ao redor. Contudo há algo maior, mais cheio de propósito: a satisfação plena, não somente de encontrar os nossos corações,  porém de nos tornamos o coração de ouro dos outros. 


Informações: 
* Trecho extraído de O Livro de Ouro da Mitologia, Thomas Bulfinch, 2006, Martin Claret, p. 31.
* Foto 2: Quadro Prometeu Acorrentado de Jacob Jordaens. Foto 3: Ilustração Pandora de Walter Crane

terça-feira, 12 de março de 2013

Anos Dourados

Boleros, fotografias e lembranças
Dos anos dourados saudosos
E dos versos destemidos
Que compunham outrora

Momentos em preto e branco
Frio, inverno da alma
Filamentos de sonhos brilhantes
Submersos em cristais d'água

Em alguns momentos estamos felizes
Imersos em pensamentos passados
Mas de repente fecha-se o álbum...

... E acaba o vinho e a música do Tom e Chico*
A noite foi-se e o dia já vem
E vide a nós, vida que ainda tem.

T.S. Frank

Informações:

*Poema inspirado na música Anos Dourados, de 1986, de autoria de Tom Jobim e Chico Buarque

"A TV Globo encomendou a Tom Jobim uma música para a minissérie Anos Dourados. O maestro fez a melodia, e nada do parceiro terminar a letra. Chico havia quebrado o pé, e lembra-se de se emocionar vendo o seriado na tevê. Tom ligava avisando que a música iria entrar, mas nada da letra - que só ficou pronta depois que o programa já havia saído do ar. Chico admite não ser muito rápido, mas se defende dizendo que nesse caso "a minissérie é que foi precipitada". Valeu a pena esperar."  

(trecho do livro Chico Buarque, da série Histórias de Canções, de Wagner Homem, p. 243, editora LeYa, 2009)

Fotografia - Felipe Camargo e Malu Mader em cena da minissérie Anos Dourados/1986



sexta-feira, 1 de março de 2013

Às vezes, é preciso um bocado de tristeza...

Queridos (as) leitores (as), em falta, eu sei...  O curso de Física, os medos... Vida de escritor aspirante é difícil .. In fact, a falta de inspiração é a Medusa dos escritores. Mas cá estou eu e do outro lado estão as férias - esperando-me com mais escritos. 

"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não..." (Escrito por Vinicius de Moraes & Baden Powell, presente em Vinicius & Odette Lara/1963)



Por esses dias estou a garimpar as discografias dos meus queridos Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Chico Buarque. E, a cada visita e revisita, o meu mundo enche-se de notas coloridas naturalmente, como se a vida fosse onda que, delicadamente, alterna ápices e fundos - nenhuma alegria de plástico e nenhuma tristeza de botequim de quinta. O que se tem é a harmonia. 

Difícil mesmo e não se chatear com o que ficou para trás. Como pode o mundo estar tão estúpido, tão arrogante, tão pobre, tão mau educado, tão opressor? Por que trancafiaram as qualidades? O que fizeram elas para terem destino tão cruel? 

A semana não foi fácil, a retrasada uma das piores. Nada que valha a pena descrever em mais linhas. Porém digo-lhes que agora posso escrever com mais propriedade sobre a natureza humana das humilhações, pecados e ignorância.

Ah, vida... É melhor ser alegre que ser triste, mas a tristeza não é tão má - ela é irmã da Esperança - a filha do leiteiro. 

Todos estão, de alguma forma, ocupados com suas vidas - os de São Paulo, os de Minas, os do Sul, Norte, Nordeste, Centro Oeste, os que leem esse texto e outros. Eu penso em vocês, penso no que fazem, nos retratos felizes das suas vidas ou nas linhas de desesperança que os afligem. Imagino como agem, o que escutam, se estão no frio ou no quentinho, dando comida aos patos no lago, sentados (as)  com os namorados (as), olhando o horizonte e planejando dias melhores. E o que mais gosto - imaginar muitos de vocês entrando em uma padaria simples, mas sofisticada, sentindo cheiro de café [que agora não posso beber tão cedo] e vendo docinhos e dizendo - "Bela tarde ou manhã."

Das tristezas e medos, todos temos um pouco [eu confesso - sou exagerada. Tenho a alma das tragédias gregas], todavia devemos seguir, nos cuidar - fisicamente e mentalmente. Afastar quem faz mal, abraçar quem faz bem, dizer "Eu gosto de você" para quem merece e falar, mesmo que tardiamente, tudo que sentimos. 

Sim... E agora continuemos com nosso sopro divino. 

Se do escárnio podemos tirar ensinamentos, então dos presentes do dia a dia, cunhados na brandura dos mistérios, tiremos o combustível dessa locomotiva.