domingo, 22 de fevereiro de 2015

Constatações do Oscar - O papel de sempre da mulher: principal de fato e coadjuvante por imposição

"O que é uma mulher? Eu lhes asseguro, eu não sei. Não acredito que vocês saibam. Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas à habilidade humana."
(Virginia Woolf, Women and Writing - página 60, Women's Press, 1979, 198 páginas)


Assistindo a um vídeo do Omelete TV sobre a falta de indicações e personagens femininas fortes no Oscar, percebi, mais uma vez, que sempre que tentamos dizer que algo está errado, esbarramos na total falta de compreensão ou mesmo na distorção dos fatos. O feminismo puro e simples quer somente a igualdade e o respeito. O resto é estória para boi dormir.

Prólogo...

Cresci em uma família feminista - mãe chefe de casa - pai - cuidador de crianças. E até a dissolução dessa (por outros motivos), tudo ocorreu bem, como ainda continua a acontecer.
Nenhuma quis ser médica, advogada ou qualquer outra daquelas profissões elitizadas. Saíram, sim, aspirantes a cientista, artista e jornalista.
Brincávamos na rua, com as bonecas, de carrinho e de bola. Rosa? Uma cor ótima para meninos. 
Eu não sei cozinhar bem e só aprendi algumas coisas para a sobrevivência. Minhas irmãs até que são bem melhores, porque gostam e ponto.
Cada uma, desde a entrada na adolescência, cuida da sua roupa - joga nas gavetas. Nada de passar, deixar tudo arrumadinho. Comidinha pronta em travessas de porcelana na mesa, à espera do chefe da casa, é um cenário alien. Sim, no interior dos interiores, aquele era o lar igualitário. O que a gente queria (e quer) é descobrir o mundo. 
Mas quando se cresce, as análises começam: amigos e amigas, namorados e casuais, parentes que se sujeitam ao velho tipo de família mais passada que uma uva passa. São as raízes do machismo velado e incrustado na própria alma.
Não é pelo desejo de querer estar ali e ser a dona de casa. Muitas apenas encaram como o divino papel de provedora do lar e acabam com a luz da própria vida (no filme Sorriso de Mona Lisa/Mona Lisa Smile/2003 há um exemplo de que uma das protagonistas apenas queria ser dona de casa porque gostava da ideia. Sim isso é legal, É ESCOLHA!). As reclamações são inúmeras, cansaço e brigas. No dia seguinte, tudo recomeça.
O papel duplo de mãe e esposa é, ainda, considerado o sucesso maior na vida de uma mulher, ainda mais se agregar uma graduação em uma universidade para encher as vaidades. E é só.
Conquistas? Ainda faltam muitas. Apesar da Lei Maria da Penha, vidas continuam a ser ceifadas pelo famigerado crime passional - a velha defesa da honra.
Os olhares desconfiados quando se chega ao topo ainda são muitos. O chocante não abrange somente estatísticas. Quando os números abrem as bocas, no mal caratismo do anonimato da internet ou através do colega ao lado, constatamos, duramente, que um longo caminho ainda precisa ser percorrido.

***



"De 2010 a 2015, das 150 cinebiografias feitas, apenas 25% são sobre mulheres e dessa porcentagem, apenas 25% falam de mulheres que mudaram o mundo. O resto é tudo filme de casal, filme de alguma mulher que sofreu um trauma, está doente, que teve algum problema na família ou que está numa jornada de auto descobrimento. Enquanto do lado masculino, você tem 75% de filmes em que sobram caras que mudaram o mundo. (Erico Borgo, Omeleteve, 2015)

O Oscar esse ano ganhou #hashtags e mais #hashtags por ter, em quase sua totalidade, as principais categorias preenchidas pelos chamados filmes brancos. E ficou um ano difícil para as mulheres também. Nas principais categorias temos homens cujos os feitos foram universais - Alan Turing e Stephen Hawking. Sobraram para as mulheres poucas nomeações com papéis típicos da jornada interior, de seu universo particular e a busca por si mesma. São filmes que têm seus méritos, porém não rivalizam com aqueles que tornam os homens detentores de grandes feitos. E mulheres bravas e grandes não faltam - escritoras, políticas, artistas e cientistas - Ágatha Christie, Indira Ghandi, Marie Curie e tantas outras - suficientes para nos colocar em patamares de grandes contribuidoras universais.

Epílogo...

Trata-se de uma questão ainda complexa e que exige reflexão e mudanças. Apesar do espaço maior que temos para publicar o que pensamos, estar em cursos e profissões consideradas antes masculinas, falta-nos o respeito em sua totalidade, a valorização de fato e a igualdade. Não raro, as reivindicações feministas ganham atribuições invertidas e exageradas.
Se em nosso cotidiano estamos sempre sujeitas a esse esteriótipo, o que esperar das indicações do Oscar? Apenas o comum - uma total falta de empatia com a causa.
Antes, criadas apenas para ser mães e donas de casa, enquanto os maridos, graças aos cuidados e quase servidão plena, podiam sair e universalizar suas conquistas. Agora, mesmo ocupando espaços importantes nunca antes oferecidos (muitos a contra gosto), somos vítimas da intolerância camuflada - piadas, conotação sexual, perseguições, assédios, chantagens e violência verbal.
Somos tão fortes, geramos vidas, sangramos todos os meses, matamos leões e leões e, mesmo assim, para muitos olhos, tudo não passa de um mimimi sem igual. Feministas isso, feministas aquilo.
Se mesmo brigando pelo mínimos detalhes, somo oprimidas, imaginem se deixássemos passar. Seria a mesma tragédia resumida pela ignorância desmedida do ex-jogador de futebol Pelé (referente ao episódio de racismo sofrido pelo goleiro dos Santos, Aranha) - “O Aranha precipitou-se um pouco querendo brigar com a torcida. Se eu fosse parar o jogo ou gritar desde quando comecei a jogar, na América Latina, aqui no Brasil e no interior, toda vez que me chamassem de crioulo ou de macaco, aí todo jogo teria que parar. O torcedor, dentro da sua animosidade, ele está gritando ali. A gente tem que coibir o racismo, mas acho que não é tudo que vai coibir.". É assim que querem as mulheres e homens machistas - que deixemos o que chamam de mimimi de lado e sejamos mais coniventes.
Lutar pelos mínimos detalhes, criticando cada sílaba mal proferida, mostra perseverança e engajamento. Não existe nenhuma universalização sem desbravamento, o que exige ainda mais esforço de nossa parte.

Indicados ao Oscar 2015 - 87th Academy Awards



22 de fevereiro de 2015 
Hoje é dia de OSCAR!

Horário: 23:00 h
Apresentador: Neil Patrick Harris - que todo mundo conhece do How I Met Your Mother (Como Conheci Sua Mãe).
Transmissão no Brasil: Globo - Péssima!
Conselho do CQ&Sherlock - assista pela TNT ou E!. Nessas horas, se não tiver TV Paga em casa, perca a vergonha e grude em um parente, amigo (a) ou vizinho (a) que tenha!

***

Dia 15 de janeiro saiu a lista com os indicados ao Oscar. E, como de costume, a Academia desagradou muita gente.

Primeiro - Selma - Uma Luta Pela Igualdade (Selma), filme sobre Martin Luther King, não foi indicado a Melhor Diretor, ou melhor, Diretora - Ava DuVernay - mesmo sendo indicado na categoria Melhor Filme. E, além disso, só recebeu mais uma indicação - Melhor Canção - Glory - escrita por John Stephens and Lonnie Lynn e interpretada por John Legend e o rapper Common. A canção é belíssima e tem chances de levar a estatueta (link para o vídeo de Glory aqui).

Segundo - O Abutre (Nightcrawler) foi totalmente ignorado na categoria que mais esperava-se uma indicação - Melhor Ator - Jake Gyllenhaal. O filme só conseguiu uma indicação na categoria Melhor Roteiro Original - Dan Gilroy.

Como foi publicado na postagem A corrida para o Oscar 2015 (CQ&Sherlock, 05 de outubro de 2014), O Abutre (Nightcrawler) saiu dos festivais de Toronto e Cannes muito elogiado, assim como outros que também foram ignorados pela Academia, entre eles: Invencível (Unbroken), de angelina Jolie, indicações apenas para prêmios técnicos; Sr. Turner (Mr. Turner), sem indicação para melhor ator - Timothy Spall (levou o prêmio no Festival de Cannes); Garota Exemplar (Gone Girl), apenas indicado em Melhor Atriz (Rosamund Pike) e Cake - Uma Razão Para Viver (Cake) que não foi indicado por Melhor Atriz (Jennifer Aniston). E ficou de fora também Uma Aventura Lego (The Lego Movie) na categoria de Melhor Animação, conseguindo emplacar somente Melhor Canção - Everything is awesome - de Shawn Patterson. A versão Pop da canção, nos créditos finais do filme, é cantada por  Tegan and Sara e The Lonely Island.

As surpresas ficaram por conta das indicações de Meryl Streep na categoria Melhor Atriz Coadjuvante por Caminhos da Floresta (Into the Woods) e as indicações de Sniper Americano (American Sniper), inclusive, com Melhor Ator - Bradley Cooper.

Os azarão do ano ficou com O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel ), que fez uma corrida pelas beiradas e conseguiu nove indicações, inclusive Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original.

O Brasil não ficou de fora, ao menos dessa vez. Estamos concorrendo com o documentário O Sal da Terra, sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Ele foi dirigido pelo alemão Win Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado, filho de Sebastião.

O Oscar desse ano está morno e muito branco. As hashtags e opiniões nas redes sociais compartilham a mesma ideia. No geral, não há um filme marcante ou aquela sensação de algo novo, a não ser pela proposta de Boyhood (inclusive, muito chato!).

Para quem quer começar a ver grandes filmes, atuações muito boas, fora dos padrões estereotipados da academia, é bom começar a prestar atenção em festivais como Toronto e Cannes.

Vamos esperar os resultados!

Prêmios especiais

Antes da entrega principal, tem-se, meses antes, a entrega dos prêmios honorários, humanitários, técnicos e científicos e de incentivo aos talentos.
De fato, a Academia tem cinco categorias de prêmios: 1) Oscars; 2) Governors Awards3) Technical Achievement Awards; 4) Student Academy Awards 5) Academy Nicholl Fellowships. Dessas categorias, os prêmios mais importantes são:

1) Oscar Honorário: premia personalidades com grandes contribuições para o Cinema. 
O prêmio foi entregue na cerimônia Governors Award, ano passado, 2014, para o grande diretor japonês Hayao Miyazaki, conhecido por sua técnica complexa de animação e por ainda trabalhar à mão. Também foram premiados Maureen O’Hara, atriz irlandesa que atuou em clássicos como O Corcunda de Notre Dame (1939) e Como Era Verde o Meu Vale (1941) e o roteirista francês Jean-Claude Carrière de A Insustentável Leveza do Ser (1987) e A Bela da Tarde (1967).

2) Prêmio Humanitário Jean Hersholt: premia personalidades por suas contribuições em causas humanitárias. O prêmio também foi entregue na cerimônia Governors Award, ano passado, 2014, para Harry Belafonte, por seu trabalho em prol dos direitos civis e raciais.

Prêmio Principal

Indicados

1-Melhor Filme

Sniper Americano
Birdman
Boyhood: Da Infância à Juventude
O Grande Hotel Budapeste
O Jogo da Imitação
Selma
A Teoria de Tudo
Whiplash


2-Melhor Diretor

Alejandro Gonzáles Iñárritu (Birdman)
Richard Linklater (Boyhood)
Bennett Miller (Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo)
Wes Anderson (O Grande Hotel Budapeste)
Morten Tyldum (O jogo da imitação)


3-Melhor Ator

Steve Carell (Foxcatcher)
Bradley Cooper (Sniper americano)
Benedict Cumberbatch (O Jogo da Imitação)
Michael Keaton (Birdman)
Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)


4-Melhor Ator Coadjuvante

Robert Duvall (O Juiz)
Ethan Hawke (Boyhood)
Edward Norton (Birdman)
Mark Ruffalo (Foxcatcher)
J.K. Simmons (Whiplash)


5-Melhor Atriz

Marion Cotillard (Dois Dias, Uma Noite)
Felicity Jones (A Teoria de Tudo)
Julianne Moore (Para Sempre Alice)
Rosamund Pike (Garota exemplar)
Reese Witherspoon (Livre)


6-Melhor Atriz Coadjuvante

Patricia Arquette (Boyhood)
Laura Dern (Livre)
Keira Knightley (O Jogo da Imitação)
Emma Stone (Birdman)
Meryl Streep (Caminhos da Floresta)


7-Melhor Filme em Língua Estrangeira

Ida (Polônia)
Leviatã (Rússia)
Tangerines (Estônia)
Timbuktu (Mauritânia)
Relatos Selvagens (Argentina)


8-Melhor Documentário

O Sal da Terra
CitizenFour
Finding Vivian Maier
Last Days
Virunga


9-Melhor Documentário em Curta-Metragem 

Crisis Hotline: Veterans Press 1
Joanna
Our curse
The Reaper (La Parka)
White Earth


10-Melhor Animação

Operação Big Hero
Como Treinar o Seu Dragão 2
Os Boxtrolls
Song of the Sea
The Tale of the Princess Kaguya


11-Melhor Animação Em Curta-Metragem

The Bigger Picture
The Dam Keeper
Feast
Me and My Moulton
A Single Life


12-Melhor Curta-Metragem em Live-Action

Aya
Boogaloo and Graham
Butter Lamp (La Lampe au Beurre de Yak)
Parvaneh
The Phone Call

*Curiosidade: essa categoria existe desde 1957, resultante da fusão de duas outras. O Ator Peter Capaldi - atual Doctor Who - BBC - ganhou a estatueta em 1995 por Franz Kafka's It's a Wonderful Life - juntamente com Ruth Kenley-Letts.

13-Melhor Roteiro Original

Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo (Birdman)
Richard Linklater (Boyhood)
E. Max Frye e Dan Futterman (Foxcatcher)
Wes Anderson e Hugo Guinness (O Grande Hotel Budapeste)
Dan Gilroy (O abutre)


14-Melhor Roteiro Adaptado

Jason Hall (Sniper Americano)
Graham Moore (O Jogo da Imitação)
Paul Thomas Anderson (Vício Inerente)
Anthony McCarten (A Teoria de Tudo)
Damien Chazelle (Whiplash)


15-Melhor Fotografia

Emmanuel Lubezki (Birdman)
Robert Yeoman (O Grande Hotel Budapeste)
Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski (Ida)
Dick Pope (Sr. Turner)
Roger Deakins (Invencível)


16-Melhor Montagem

Joel Cox e Gary D. Roach (Sniper Americano)
Sandra Adair (Boyhood)
Barney Pilling (O Grande Hotel Budapeste)
William Goldenberg (O Jogo da Imitação)
Tom Cross (Whiplash)


17-Melhor Design de Produção

O Grande Hotel Budapeste
O Jogo da Imitação
Interestelar
Caminhos da Floresta
Sr. Turner


18-Melhores Efeitos Visuais

Dan DeLeeuw, Russell Earl, Bryan Grill e Dan Sudick (Capitão América 2: O Soldado Invernal)
Joe Letteri, Dan Lemmon, Daniel Barrett e Erik Winquist (Planeta dos Macacos: O Confronto)
Stephane Ceretti, Nicolas Aithadi, Jonathan Fawkner e Paul Corbould (Guardiões da Galáxia)
Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher (Interestelar)
Richard Stammers, Lou Pecora, Tim Crosbie e Cameron Waldbauer (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido)


19-Melhor Figurino

Milena Canonero (O Grande Hotel Budapeste)
Mark Bridges (Vício Inerente)
Colleen Atwood (Caminhos da Floresta)
Anna B. Sheppard e Jane Clive (Malévola)
Jacqueline Durran (Sr. Turner)


20-Melhor Maquiagem e Cabelo

Bill Corso e Dennis Liddiard (Foxcatcher)
Frances Hannon e Mark Coulier (O Grande Hotel Budapeste)
Elizabeth Yianni-Georgiou e David White (Guardiões da Galáxia)


21-Melhor Trilha Sonora

Alexandre Desplat (O Grande Hotel Budapeste)
Alexandre Desplat (O Jogo da Imitação)
Hans Zimmer (Interestelar)
Gary Yershon (Sr. Turner)
Jóhann Jóhannsson (A Teoria de Tudo)


22-Melhor Canção

Everything is Awesome, de Shawn Patterson (Uma aventura Lego)
Glory, de John Stephens e Lonnie Lynn 
(nomes verdadeiros de John Legend e do rapper Common) (Selma)
Grateful, de Diane Warren (Além das Luzes)
I'm Not Gonna Miss You, de Glen Campbell e Julian Raymond (Glen Campbell…I'll Be Me)
Lost Stars, de Gregg Alexander e Danielle Brisebois (Mesmo Se Nada Der Certo)


23-Melhor Edição de Som

Alan Robert Murray e Bub Asman (Sniper Americano)
Martín Hernández e Aaron Glascock (Birdman)
Brent Burge e Jason Canovas (O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos)
Richard King (Interestelar)
Becky Sullivan e Andrew DeCristofaro (Invencível)


24-Melhor Mixagem de Som

John Reitz, Gregg Rudloff e Walt Martin (Sniper Americano)
Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga (Birdman)
Gary A. Rizzo, Gregg Landaker e Mark Weingarten (Interestelar)
Jon Taylor, Frank A. Montaño e David Lee (Invencível)
Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley (Whiplash)


Fontes:

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Recomendação de DVD/Blu-Ray - Dire Straits - Alchemy Live [1984]/2010

Falar de Dire Straits é sempre explorar, primeiramente, as explicações do sucesso de uma banda que remou contra a maré em uma época em que os acordes clássicos foram substituídos por notas mais pesadas e complexas do rock progressivo e do punk rock.

As influências na obra dos Straits estão bem fincadas no Country, Blues e R&B e são elas que entrelaçam o delicioso Alchemy Live, o primeiro show ao vivo gravado pela banda, em 1983, mostrando que o público sempre vai amar a leveza do conceito "de volta para as bases".

Com um DVD e Blu-Ray [o também CD duplo foi remasterizado e posto à venda bem antes, em 8 de maio de 2001] lançados em 2010, totalmente remasterizados, em som 5.1 DTS-Surround, o grupo londrino deleita-nos com belíssimas versões de seus carros-chefe, cheias de energia, como Romeo and Juliet, Private Investigations e Sultans Of Swing [destaque total e absoluto também para Expresso Love].

O registro é o trabalho precursor do grande álbum de 1985 - Brothers In Arms - mostrando o auge do grupo na Love Over Gold Tour 

O minimalismo do estilo e elegância de Dire Straits ficam por conta da guitarra e voz do líder Mark Knopfler [hoje com uma longa e bem sucedida carreira solo, trabalhando também como produtor musical e compositor de trilhas sonoras para o cinema, além de ser oficial da Ordem do Império Britânico - OBE], juntamente com o baixo eficaz de John Illsley. Os dois eram os únicos membros originais do Dire nessa turnê e muitas trocas foram feitas depois das saídas dos dois outros fundadores, o segundo guitarrista, David Knopfler [os dois irmãos brigaram em 1980 e David gravou até Communiqué/1979], e o baterista, Pick Withers [que saiu para formar uma banda de Jazz e cuidar da família].

Alchemy Live é um registro sublime e esfuziante, ratifica a boa carreira do grupo e prova a eficácia e diversidade do simples [palavra preferida dos detratores da banda]. Não há dúvidas de que deve fazer parte da coleção dos fãs e das pessoas que amam ótimos arranjos e voz e o principal: o bom e velho Rock'n'Roll.

Informações 

Nome: Dire Straits - Alchemy Live
Artista: Dire Straits - Mark Knopfler (guitarra e vocais), Alan Clark (teclado), John Illsley (baixo), Hal Lindes (guitarra), Terry Williams (bateria); músicos adicionais - Mel Collins (saxofone), Tommy Mandel (teclado) e Joop De Korte (percussão)
Lançamento: originalmente lançado em 16 de março de 1984; relançado em CD remasterizado (faixa a mais - Love Over Gold] em 8 de maio de 2001; DVD e Blu-Ray remasterizados, 5.1 DTS-Surround, em maio de 2010.
Gênero: Rock Clássico
Duração: CD - 93:59; DVD Blu-Ray - 90:00
Gravadora: CD - Vertigo/Warner Bros. (USA); DVD Blu-Ray - PolyGram Video

Faixas - DVD/Blu-Ray

1. Once Upon a Time in the West (Mark Knopfler) - 13:01
2. Expresso Love (Mark Knopfler) - 5:45
3. Romeo and Juliet (Mark Knopfler) - 8:17
4. Private Investigations (Mark Knopfler) - 7:34
5. Sultans of Swing (Mark Knopfler) - 10:54
6. Two Young Lovers (Mark Knopfler) - 4:49
7. Tunnel of Love (Mark Knopfler) - 14:29
8. Telegraph Road (Mark Knopfler) - 13:37
9. Solid Rock (Mark Knopfler) - 6:01
10. Going Home: Theme of the Local Hero (Mark Knopfler) - 6:05

Gravação do show

Hammersmith Odeon (Hoje Hammersmith Apollo), Londres - Inglaterra, 22 e 23 de julho de 1983.

Recepção

O álbum ao vivo ficou na posição #46 na Billboard 200, em 1984.

Crítica especializada 

Allmusic - 3 estrelas de 5 possíveis

Algumas partes do DVD










Fontes

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Queen of Pain... A volta da dor nas costas e outras histórias...

"Às vezes eu me sinto uma mola encolhida..."
(Lulu Santos - Toda Forma de Amor)


Foi um fim de ano muito bom, em casa, com a família, longe das mazelas da Capital, seus transportes públicos sucateados, comidas caras e difícil cotidiano em pensionatos com pessoas estranhas e acontecimentos bizarros. Sim, 2014 não foi tão bom - relacionamentos conflituosos, amizades que não deveriam ter sido estabelecidas, sentimentos que nunca deveriam ter existido, pessoas e seus tratamentos ruins e muita dor física (e também da alma).

Uma caminhada longa - médicos e médicos, consultas, exames, emergências, agulhadas, ressonâncias, gastrite, intolerância à lactose e uma cirurgia minimamente invasiva para tentar aliviar a minha dor crônica (rizotomia). Estava na luta diária, um pouco mais animada, e, de repente, em uma segunda-feira azul (ao melhor estilo New Order), surge a dor que anuncia que todos os esforços foram, até o momento, em vão - a dor lombar - em seu grau maior, irradiando para perna, com grande dificuldade de locomoção. 

Foi e é um grande pesadelo. Sim, eu chorei muito, não há como negar. É uma situação tão desgastante que somente quem tem esse problema pode imaginar a montanha que se ergue ao horizonte. Sentir-se só é apenas um dos muitos problemas, além da dor persistente que só passa no repouso completo. É um desamparo descomunal, um abismo, uma sensação de nudez ao vento frio. 

Difícil recomeço do zero, do embrião das possibilidades de manutenção da qualidade de vida, afinal, apesar da teimosia de Pandora, no devido tempo, ela guardou o sentimento que salvou e salva muitas almas da completa escuridão: a esperança. 

Mas da dor surgem alguns frutos não totalmente amargos. O meu tempo de repouso serviu-me para muitos pensamentos. Lembrei-me que há um ano e meio estou com Moby Dick Vol. 1 encalhado e isso tornou-se uma verdadeira saga. Das outras minúcias da meditação, também veio-me o fato de que poucos escutam-me, porém acham em mim uma ouvinte nata e despejam suas frustrações, receios, opiniões esdrúxulas e raivosas. Na feira das vaidades, muitas vezes, eu pensei em cappuccinos com creme e cereja ou um café com leite e pãozinho francês. 

A dor deixa um rastro de melancolia. Então escrever, minha parte favorita da vida, esteve abalada por conta da letargia comum aos acometidos por tais eventos. Porém cessou brevemente. E eis aqui o fruto desse intervalo. 

Sinto saudades do vento boreal, o dono do crepúsculo que anuncia a noite, a melhor hora; detentor dos meus pensamentos mais românticos, mais sonhadores e mais audaciosos. 

Se eu pudesse recuperar boa parte daquela esfuziante alegria juvenil, restauraria muitas paixões que adormeceram ou se quebraram. 

O amor, em sua totalidade, pela vida, pelos outros, pelas metas, não sei foi, escondeu-se. No lugar, entrou a dor... Essa mesma, angustiante, física, que, junto com a dor do coração, murchou todas as flores multicoloridas da estrada de tijolos amarelos. 

"Há um pontinho preto no sol hoje
É a mesma coisa antiga de ontem
Há um chapéu preto preso no topo de uma árvore alta
Há uma bandeira rasgada e o vento não vai parar
Eu já estive aqui antes, debaixo de uma chuva incessante
Com o mundo girando em círculos, rodando em volta do meu cérebro
Acho que estou sempre esperando que você dê um fim a este reinado
Mas é meu destino ser o Rei da Dor..." 

(The Police - King of Pain)