quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Erítia

O meu eu voou para longe. 
Para além do horizonte
de tons avermelhados,
a morada dos deuses,
herois e amantes.

Um delírio
a consumir a alma.
Transpasso-me e
transponho-me.

Sou a libertinagem
de uma ninfa
em escarlate.

Dou-me nudez
em carne e
pensamento.

Banho-me em águas envoltas
por sangue vivo e quente.
Adentro-me em plenitude
em meu próprio espírito perdido.

Visto-me de luz
incandescente,
de grande rubor,
esplendorosamente
carmim.

Recaio em púrpura atmosfera
para então reluzir
na Ilha Vermelha
tingida pelo Pôr do Sol.

Encontro a sedenta paixão
em teu olhar secular.
Tu conhece-me e eu a ti.
E a ti pertenço e tu a mim.

E dissipa-se o tempo
com o vindouro crepúsculo.
Rompem-se os laços e
Trincam os rubis.

A distância fez-se presença
E a separação a realidade.

T.S. Frank




segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Crítica da Semana: Alma Gêmea (Soulmate/2013)

Altamente despretensioso e baseado, praticamente, na interação entre dois personagens. Mas não se engane por sua simplicidade - é um filme bem interessante.

O senso comum quase sempre aponta a coqueluche do terror e do suspense para as produções americanas. Entretanto, há alguns poucos anos, esse cenário vem mudando. Trabalhos independentes de vários outros países ganham mais destaque. Foi assim, recentemente, com os ótimos Boa Noite, Mamãe (Ich Seh Ich Seh/Áustria/2014) (crítica do CQeSherlock aqui) e Invasão Zumbi ( 부산행 Busanhaeng/Coréia do Sul/2016). Também pode-se dizer, com propriedade, que as produções de língua espanhola, no circuito Argentina-México-Espanha, possuem grandes méritos e são uma escola de referência.

E junta-se a essa lista os britânicos, com seus filmes não muito longos, com cenários modestos, campestres, usando o próprio cotidiano e um orçamento baixo que dá muita ênfase as boas atuações e a roteiros de qualidade. Vide o excelente Extermínio (28 Days Later/2003) (crítica do CQeSherlock aqui). E é nesse âmbito que aparece-nos Soulmate (Reino Unido/2013), uma grata surpresa para quem não prende-se somente ao famoso jump scare (a tão banalizada técnica do susto a qualquer custo).

Anna Walton
Temos uma construção de enredo até bem simples - Audrey (Anna Walton), uma mulher devastada pela perda de seu marido em um acidente de carro, tenta o suicídio. Entretanto é salva por sua irmã Alex (Emma Cleasby). Depois desse fato, ela decide que o melhor é isolar-se por um tempo no campo. No primeiro dia, Audrey encontra dois moradores locais, Theresa (Tanya Myers) e o marido, Dr. Zellaby (Nick Brimble), que falam sobre o proprietário anterior da casa, Douglas (Tom Wisdom), que suicidou-se há 30 anos. Logo a nova residente do imóvel começa a ouvir ruídos estranhos e percebe uma porta trancada. Ao conversar novamente com o Dr. Zellaby, ela descobre que essa está fechada desde a morte de Douglas. Eventualmente os ruídos tornam-se mais fortes. Então, ao abrir a porta, Audrey encontra vários pertences do antigo morador, incluindo as cartas de sua noiva Nell (Rebecca Kiser). Neste ponto, Douglas começa a manifestar-se dentro da casa, revelando-se a Audrey. Os dois são capazes de conversar um com o outro, estabelecendo um vínculo emocional, mesmo que não possam interagir fisicamente. No entanto, com o passar dos dias, surgem dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Douglas - ele pode ser apenas uma alma parecida com Audrey ou uma manifestação sinistra e maquiavélica.

Tom Wisdom
Confesso que assisti, a princípio, por causa do Tom Wisdom, um ator muito bom, requintado e que tem uma bela presença cênica (ele é mais conhecido, injustamente, pela série do canal Sci-Fi, já cancelada, Dominion). Foi complicado conseguir uma cópia, pois é considerada rara aqui no Brasil. E não para por aí - dublagem ou legendas (mesmo em inglês) não estão disponíveis em parte alguma deste planeta. Tentei, depois de saborear a minha cópia do submundo, comprar o streaming com legendas na língua inglesa pela Amazon Prime dos Estados Unidos e não deu certo de jeito nenhum - precisa-se de um cartão de crédito e endereço de lá. Mas importar o DVD está nos meus planos.

Finalizo com uma certeza: um horror britânico, de classe, que recomendo firmemente!


***

Trívias sobre o filme Alma Gêmea (Soulmate /2013)


Cena removida do filme!
A versão britânica do filme teve a cena de abertura original, em que Audrey (personagem de Anna Walton) tenta se matar, retirada. Isso ocorreu por conta da British Board of Film Classification - BBFC achar que isso poderia ser um incentivo ao suicídio.

A película levou quatro anos para ficar pronta. Mas as filmagens deram-se em apenas 24 dias.

O ator que interpreta o marido morto de Audrey é o Fotógrafo da Produção.

Nick Brimble (que interpreta o Dr. Zellaby) só se juntou à produção uma semana antes dela começar a ser rodada, substituindo um ator que foi contrato anteriormente.

O Diretor de Fotografia original abandonou o projeto um mês antes das filmagens.

O papel de Audrey foi escrito tendo Anna Walton em mente.

Diversos diretores passaram pelas etapas de filmagem.

Nick Brimble filmou seu papel em 6 dias.

Nick Brimble ficou perplexo com os aspectos do personagem do cachorro.

O cachorro, à proposito, chama-se Anubis e sua dona é a diretora Axelle Carolyn.

Emma Cleasby (que interpreta Alex) filmou seu papel em 2 dias.

Neil Marshal (Produtor Executivo e sim, esse mesmo, diretor dos filmes Centurião/2010, Abismo do Mesmo/2005, o novo Hellboy e de muitos episódios de séries famosas, como Game of Thrones...) fez uma breve aparição na película (o famoso termo cameo).

Neil Marshal, na época, era casado com a diretora/escritora do filme, Axelle Carolyn (estão, neste momento, em processo de divórcio).

Tom Wisdom juntou-se, após um breve comunicado, ao elenco. A escolha original havia desistido.

A escritora/diretora Axelle Carolyn tinha uma coluna regular em uma revista americana dedicada aos fãs de Terror, a Fangoria.

Muitos membros do elenco juntaram-se a produção em diversas etapas das filmagens, para desistirem de participar logo em seguida.

Trailer



Cena, na íntegra, removida do filme 
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES!
TENTATIVA DE SUICÍDIO!



Fontes

Alma Gêmea (Soulmate) - Wikipédia em Inglês
Alma Gêmea (Soulmate) - Rotten Tomatoes - Site em Inglês
Alma Gêmea (Soulmate) - IMDb - Site em Inglês
Alma Gêmea (Soulmate) - Filmow - Site em Português
Cena de abertura de Alma Gêmea (Soulmate) é retirada pela BBFC - Artigo em Inglês
Axelle Carolyn - Wikipédia em Inglês
Neil Marshall - Wikipédia em Inglês

Outras mídias

Instagram da Diretora Axelle Carolyn
Twitter da Diretora Axelle Carolyn

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Aprisionamento

Mais cedo tentei juntar algumas palavras. Não consegui. O ambiente não é tão favorável assim. E tenho que dizer que sou uma fraca por isso.

Ora! Dostoiévski escreveu Crime & Castigo e outras de suas fantásticas obras em condições extremamente angustiantes, como sua situação com as dívidas, a pobreza e a iminência da prisão. E eu mal redigi umas parcas linhas desconexas e logo tive um dissabor como resultado final. Eu sou uma grande piada!

Estou imersa em grande dilema. E queria contar tudo sem assemelhar-me a esta gente frívola dessa época.

É que... Sim... Eu perdi a vontade e o interesse no curso de Física. Eu não o quero mais! Soa simples, afinal, é só uma faculdade.

E o que eu estou fazendo para contornar essa situação? Pois bem, tenho colocado currículos incessantemente por aí e fiz o ENEM para uma possível permuta na Universidade. Estou prestes a completar trinta e dois e quero a minha vida só para mim. E pronto! Já tenho uma profissão, tenho registro e uma pós graduação prestes a terminar.

Parece muito e é de fato. Entretanto não é o suficiente para minha família. E nunca chegarei a alcançar as metas do sucesso ideal dela.

Eu tentei, por diversas vezes, descrever o meio no qual em cresci. E os rascunhos acabaram no cesto de lixo. Essa é uma tarefa, além de excruciante, difícil de realizar. Posso começar por dizer que é um povo muito religioso e temente a um Deus que castiga muito e ama fantoches.

Meu problema maior concentra-se no núcleo principal. Só que os entornos, assim por dizer, são a encarnação do mal em essência. E os dias são repletos por um falatório sem fim sobre esses familiares que, pelos dois lados sanguíneos, são vulgares e muito alienados em diversas áreas do conhecimento.

Eu simplesmente cansei! Estou farta! Sou um reflexo monstruoso da culpabilidade causada pelas miserabilidades alheias.

A verdade é que sinto que não poderei ter algo somente meu em matéria ou espírito.

Lembro-me de uma conversa em que falei que eu era incompatível espiritualmente com a família dessa existência. E esta sensação fica mais e mais clara à medida que envelheço. E ela estende-se para o círculo de conhecidos também.

Semana passada, um rapaz, da época da minha primeira faculdade e que está morando em outro estado, perguntou se não haveria a possibilidade de, alguma hora, eu passar alguns dias com ele por aquelas bandas. Minha primeira reação foi pensar comigo mesma: - Pobre coitado! Como ele ainda pode, depois de tanto tempo, ainda ter algum sentimento por mim? Eu nunca gostei dele e fico indagando-me sobre a minha real intenção, mesmo que brevemente e naquela época, em alimentar suas ilusões. Logo eu cheguei a uma cruel conclusão: Enganei muita gente! E para quê? Para obter prazer? Muito difícil. Nenhum homem conseguiu satisfazer-me e a recordação dos seus rostos são ondas amareladas, como tardes sufocantes pela fumaça das industrias. Com certeza ainda estou procurando por uma resposta plausível para estas empreitadas sem sentido.

Se eu amei? Todos amam um alguém. Mas acredito que esse meu sentimento puro, platônico, por uma alma parecida e íntima, não consumou-se por razões que estão além do meu entendimento atual. Espíritos que têm afinidades, talvez pelo chamado carma, encontram-se somente de passagem para assim evitar tragédias e tristeza. E isso foi há dezesseis anos. Tempo suficiente para ainda ser um pouco doce.

Eu também apaixonei-me - resultado de falha e da necessidade de preenchimento. E são esses os caminhos que levam a um entusiasmo doentio, incrustado pela toxidade. Eu ainda posso sentir o amargor do veneno...

Sou uma cativa que costura uma colcha de retalhos. E cada pedaço dela tem uma utopia -  êxtase, Supernova, romances, nebulosas, céus estrelados e um beijo ardente com Cassiopeia, ao fundo, no céu de um verão frio de dezembro.

Eu era apenas muito jovem e inocente... O tempo passou e tornei-me uma incrédula.

Vesti-me de Icarus. E neste momento estou em queda livre.